AUSTRÍACOS OU DIRTETÍSSIMA SUL NA FACE SUL DO CORCOVADO

Ontem cheguei da face sul. Depois de muito tempo resolvi repetir a via dos austríacos, que é a via mais tranquila daquela parede, levando em conta tanto as vias em livre quanto as em artificial. Isso por que ali só tem via de compromisso e por que os austrícos abriram uma diretíssima, a saber: um artificial fixo de grampos de 1/4 de polegada que "segue" uma linha totalmente não-natural
em linha reta (daí o nome diretíssima) que esteve em voga entre algumas comunidades na europa nos anos 70. Um estilo feio. São uns 450 metros de paliteiro, os grampos são os mesmos da via do compressor, no cerro torre, (quem frequenta esse blog já deve ter lido algo sobre isso) os mesmos da via Sol Da Meia-Noite no capacete. Aliás eu acho que o Jean Pierre comprou os grampos dos proprios gringos que saíram do Rio duros e apaixonados por umas mulatas… Coisas dos 70's. Pra vocês verem como eu tenho história e estórias sobre essa via. Em 96 eu fiz com o Thiago Vaitsman (vou tentar achar pelo menos uma foto da repetição) e foi um épico. Hoje eu tenho muito mais experiência e estou muito mais canchero nas paredes, mas as vesperas de ter meu segundo filho, não estou no momento mais em forma da minha vida.
As comparações são uma merda, mas eu não vou evitar comparar. Na verdade muita coisa mudou, eu mudei e a via mudou. A via mudou pra pior.
A graduação é um A1+ de 8 cordadas e uma nona enfiada trucha, mas que valhe a pena fazer separado, já chegando no cume. Acontece que a via fica cada vez mais sinistra por que os grampos tão horrivelmente corroídos. Onde eles simplesmente não existem mais, os lances foram refeitos, por cariocas, em parafusos de 1/4 e as vezes 3/8. muitos grampos ainda existentes não tem mais olhal, o que obriga o guia a dar boca de lobo em cada um desses para progredir, e tem algumas sequencias de três ou quatro desses consecutivos. mas a via foi protegida com grampos de 1/2 vez por outra ao longo das enfiadas. Isso dá um conforto mental maior. O que eu estou tentando dizer é que a via com o tempo ta ganhando grau, e parafraseando meu bro Arthurzinho: A1+ é o caralho! Sou muito mais me pendurar num friend e até num cliff do que aquela merda dos stubai que estão lá desde 74 e recebem maresia pra caralho!!! os do compressor parecem estar bem melhor condição, os que sobraram, lógico. Antes essas partes eram progredidas em furo de cliff, mas as cordadas iam passando e deixando novos furos, então o Hillo foi lá e bateu os parafusos.
O parceiro desta vez foi o Rafa Viana, irmão do Rick Viana, parceiro do Frey 2010. Eu guiava e ele jumareava limpando na mesma corda dinâmica. Da outra vez tínhamos duas cordas e o Thiago rebocava as duas mochilas enquanto eu subia. desta vez eu guiava com minha mochila e nós dois rebocávamos a do Rafão juntos quando ele chegava, demorou um pouco mais mas foi mais minimalista o equipo. O bivaque desta vez foi bem mais leve também e a água foi perfeitamente medida. As câmeras hoje são menores, as headlamps mais leves e mais potentes, I pod, foi um luxo. Mas que noite de merda. não fez frio, tive até calor de noite, mas dormir mesmo foi muito pouco. o platô de cima é bem melhor do que o de baixo. Dessa vez eu fiquei no menor.
Dicas pra quem quer ir lá: Além dos recomendados nut's de cabo levar pelo menos uns 4 anéis de cordelete fininho, tipo 3 ou 4mm, para os bocas de lobo nos grampos deteriorados. O guia ter sapatilha ajuda a dominar o platô e na chegada ao cume: rola umas barriginhas sujas e os grampos logo abaixo de ambos trechos são os piores da via. O resto é de tenis mesmo. Eu levei um par de sapatilhas bem confortáveis pra isso e foi a maior salvação. E também por que dessa vez não achei o caminho que sai pra esquerda, e ia dar ja no estacionamento, uma pirambeira meio caindo não me pareceu convidativa. Tivemos que andar ate o pltô da árvore do K2 (la pra direita) e guiar em livre o lance do bloco de concreto, e chegamos na estátua do redentor, cheio pra caralho. Vou ser bem sincero: eu levei um mini-kit de furo. Um martelinho, broca de 3/8 e um par de Talons. Não usei por que estava previsto o tempo virar no domingo a tarde e na pressa nem pensei nele, mas foi tranquilizador saber que ele estava lá pra se desse uma merda. Outra coisa que fez toda a diferença foi eu ter ido fazer a trilha antes e aproveitei pra deixar minha água na base. Descobri que o primeiro parafuso é alto pra cacete e eu levei um tricam vermelho só pra chegar nele, mas valeu total ter levado. recomendo.
O rafão já cansou da piada mas como vocês não ouviram ainda, lá vai: a primeira vez foi em 96, repeti agora dia 4 de agosto de 2012. só volto la naquela merda daqui a mais uns 15 anos!
O saldo é positivo.
valeu!
Ducha

vista da base. a coisa é bem vertical

vista para o leste

uma parada em cruz de 1974. cruzes!

olha a verticalidade de novo

grampinho de 1/4 em bom estado

vista para o oeste de dia e leste a noite

enfim um platôzinho. dá pra ver o rafão vindo





amanhecer 2012
perdidos no mato, quase no cume

amanhecer em 1996 com thiago vaitsman




cume em 2012, e choveu mesmo a tarde.


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