os clientes que ja tive no climbinrio (valeu, claude!)

me motivei para escrever sobre esse assunto por que outro dia, fiz uma escalada guiada com um cara, um frances, que me pareceu ter uns 50 anos em boa forma. muito simpatico, conversando muito como se a gente ja se conhecesse, meio raro ate. seu nome é claude carriere. me disse que ja tinha feito a via dos italianos com o neto (silvio neto), ha uns anos atras e que eles levaram duas horas, continuando pelo secundo. isso é um bom tempo, especialmente guiando cliente. mas ja veio logo me advertindo que não estava tão em forma como da outra vez depois desse longo e pesado inverno no hemisferio norte ficou os ultimos cinco meses sem escalar.
levei ele na via roda viva na babilonia. quem ja foi la sabe que a primeira enfiada tem uma lacona de uma pedra encostada na base, que forma um inicio de via interessante mesmo sendo um II grau brasileiro. as duas enfiadas que a seguem são tambem num ritmo bem tranquilo sem pressão alguma. la para o quarto esticão tem uma parte mais em pé, que da um VI, VI sup bem bonitinho, delicado. o claude, na base, me tira da mochila um bouldirer cassin MUITO das antigas que me faz me arrepender de não ter trazido um novo da petzl que tinha ficado em casa... o fato é que isso tambem era bom sinal, outro bom sinal. e ele passou meio suando, o lance do crux, mas passou e achou que aquilo seria um 6a+ frances, o que mais tarde na tabela do daflon no guia da urca se mostrou ser exato, tradução perfeita. na descida eu costumo ser bem precavido e além de sugerir (enfaticamente) o uso do cordelete autoblocante como back up antes do freio, meio na perna do bouldrier, ainda rapelo do sistema do cliente ja armado. isso resulta num desconforto para o cliente mas é uma garantia para o guia, que acaba de abondonar o(s) cliente(s) na parada anterior, pode descer tranquilo e assim evitar surpresas fatais. mas o claude me falou calmamente que ja vinha escalando e rapelando montanhas nos ultimos 40 anos (!) e que eu podia descer tranquilo que ele estava totalmente a vontade para armar seu rapel. bom, eu tenho 33 anos de idade e apesar da minha relação ali ser profissional eu tive que baixar a cabeça e aceitar os fatos. abri todos os rapeis ate o chão e tudo correu bem. mas sem cordelete.
arrumando o equipo na base ele me contou que vai voltar aqui pro rio em dezembro (de 2010) a bordo de um velerão de aço a caminho da antartica, o que me deixou mais empolgado ainda.
aí não deu mais para aguentar e eu perguntei a idade dele. me respondeu 68. 68 anos de idade, os ultimos 40 de escalada. como dizem por aí, benza deus!
ja levei cliente no totem, ja levei cliente para guiar o totem. uma vez inclusive o cara encadenou as lacas tambem amam a vista! eu tinha guiado o limiar das lacas (na epoca que era VIII), os buracos e na hora do negativo eu comecei a dar as costuras pro maluco (não lembro o nome dele) e ele arregalou os olhos pra mim, de surpresa. mas eu ja tinha visto ele escalar antes, botei ele para guiar outras vias, tipo K2, variante troglodita e sabia que dava pra ele. mas a cadena foi surpresa!
ja rolou tambem do cliente dizer que era escalador e não saber dar o nó, voce mostra o atc pra ele e o cara nunca viu nada parecido, ou pior: na hora do crux voce olha pra baixo e o cara ta com cinco metros de barriga na corda e olhando a vista.
mas esse claude me deu vontade de escrever sobre todos esses casos por que longevidade é o grande barato da escalada (para mim) por que seu objetivos vão mudando, mas voce nunca fica sem objetivo. o que é mais comum do que parece na vida das pessoas.
outra pessoa especial que me fez perceber esse barato do foco na nossa vida é o babu. ele me disse que a gente que tem algo como o que a escalada é pra gente, não fica sem rumo, perdido... mas isso fica pra outra postagem...
valeu!

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