(frase atribuida por mim aos situacionistas de maio de 68) |
oi, meu nome é ducha e eu sou ex-artista plástico
retrato de Luca. pintura monocromática óleo sobre papelão feito em uma hora. 20x25 mais ou menos. |
o nome do texto que leio é:
uma brevíssima historia do brasil em um parágrafo, terrorista da gloria e por que sou ex. está dividido em três partes e não vai tomar mais de 6 minutos da sua atenção.
muito bem: [pigarro]
História
os índios estavam aqui a pelo menos 15.000 anos vivendo. em busca de vida o europeu chegou ha 400 e poucos anos para colonizar essa terra, seus recursos preciosíssimos por um custo muito barato. uma vez independente o brasil continuou fazendo parte, a mais fudida claro, nessa relação colonizador-colonizado. seu papel continuava a ser o de exportador de matéria prima barata, primeiro num sistema feudal e depois num sistema capitalista, ate o ano 2000 e pouco, quando passa a ser e se auto proclamar um pais emergido. pronto. 6 maior economia do mundo.
mais valido do que simplesmente me perguntar se isso seria mesmo verdade, eu gostaria de saber: e daí? o que estamos fazendo para destruir essa relação de explorador e explorado? a gente só quer sair mais rápido possível do papel de excluído, para depois simplesmente repetir as formulas que já serviram pra nos oprimir tanto!
parece que o caminho hoje é o de continuar devastando os recursos (que são finitos) em nome de uma economia forte. isso o mais rápido possível, a todo vapor!
não seria legal investir energia, tempo e, é claro, dinheiro em maneiras de tornar o brasil um pais diferente? mais além do estereótipo de nação tropical, um pais que exportasse bens industriais, tecnologias para o improviso, além é claro, de ginga de verdade ou invés de pré-sal e belo monte?
terrorista na gloria
encontrei um árabe perdido no rio, na feira da gloria. ele não falava português, tinha perdido o passaporte e veio parar no rio, que não tem o consulado do pais dele.
eu disse que ele tinha que ir pra são paulo e ele falou que tava juntando o dinheiro para ir de ônibus.
me contou que estava passando muita dificuldade e eu não entendi se ele estava a 22 dias no rio, ou 22 dias no brasil perdido.
ele me contou que quando tentava falar com gente pobre ou de rua, para pedir ajuda eles não entendiam o que ele falava, nem ele entendia o que eles diziam e nas vezes que ele tentava falar, em inglês, com alguém rico ou melhor de grana, as pessoas não paravam para escutar por que ele ja estava sujo depois de tanto tempo na rua.
o fato, o por que de eu estar falando isso aqui é que esse senhor árabe, islâmico, concluiu a conversa me contando que morou mais de vinte anos em berlim e nunca tinha visto um lugar tão consumista quanto o rio de janeiro.
me confidenciou que se morasse aqui tinha três coisas que ele ia procurar fazer: a primeira era partir, a segunda eu não entendi ou fiz questão de esquecer e a terceira era virar terrorista.
por que deixei de ser artista
depois de toda a experimentação que rolou no século vinte os artistas resolveram puxar o freio de mão e encaretear de vez. os manifestos modernos, os anos 50 com os poetas americanos, os 60 com a arte conceitual, a galera da land art nos 70, os brasileiros neo-concretos e até a turma da minha geração que se dedicou a arte urbana e as performances foram todos engolidos pela cultura que estavam criticando. parece que hoje a contra cultura saiu de moda, parece que a gente fazia arte publica mas tava louco mesmo pra entrar numa galeria. parece ate que a gente nunca foi contra as instituições da arte, a gente só estava fora por uma questão geográfica, não por ideologia.
achar arte contemporânea um saco serviu de motivação para continuar fazendo arte mas mesmo isso ficou meio bobo com o tempo.
eu, ducha, sou contra o mercado. eu trabalho para comprar minha liberdade. eu não sou contra ganhar dinheiro fazendo arte, eu sou contra fazer arte pra ganhar dinheiro e acredito sinceramente, que da pra notar a diferença entre uma coisa e outra em menos de um minuto. hoje tudo é megalomania e zero pensamento. instalações manufaturadas quilométricas e 100% acéfalas, tão vazias quanto seus autores.
é justamente por que existem figuras como viks munizes, ernestos netos(busquem no youtube: pepeu palala) e anishes kapures (um bom cenógrafo) que eu vou parafrasear um pajé do xingu e declarar guerra:
[pausa]
[pausa]
eu vou matar você no seu sonho!
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