a maior diferença foi o clima. na chegada ao frey me deparei com a margem do lago toncek congelada, quase um metro, os locais que acampavamos com dois palmos de neve, neve por todos os cantos, na base de todas as agulhas... e um vento patagonico que quebrava varetas de barracas north face feitas para montanha. as lengas protegeram minha barraquinha que peidou para as intemperies pela primeira vez (me lembro de chuvas torrencias na mata atlantica e ela aturava bem) antes do natal vimos a neve cair pela primeira vez, cair não: voar ja que ela vinha na horizontal, de tanto que ventava. chuva mesmo foi so um dia, ou, uma noite, chuva que vinha tambem na horizontal.
sobre as escaladas, que eram nosso motivo para estar la naquele frio, foi tudo um pouco mais dificil. as aproximações com neve pelo joelho (e eu de tenis topper) não ajudavam nem um pouco. as rampas mais empinadas eram bem assustadoras, e lembrar que no ano passado eu tinha um piolet classico que não pesava nada mas como nunca foi usada eu decidi não levar... mas seria um luxo, a verdade é que não precisava, era só chutar bem a neve e seguir. na descida eu ia de costas e chutando. tendo uma luva boa, impermeavel, tudo fica melhor, molha o pé mas a mão fica show. eu tinha uma luvas de esqui. para chegar na base de la vieja, tinham duas rampas que alguns dias antes de eu ir, tinham feito desistir um canadense. tinha neve fresca sobre neve dura: receita para mini avalanches e o vale do campagnile la em baixo...então quando eu fui não tinha pegada nenhuma, foi do caralho escolher onde começar, pular o mini serac que se forma na beira e cavar os degrauzinhos. esse dia a neve era dura na ida, deu um medo do caralho, e na volta ia ate a canela.
para cata e pro ale, meus parceiros show de bola, foi pura novidade o estilo de escalada em fenda, caminhadas longas (tipo salinas), noites de frio e chão duro. pro ale cozinhar tambem foi novidade. tiveram tambem os ratinhos que insistiam em comer nossas laricas. comida estava proibida dentro da barraca. com o tempo ruim tivemos uma convivencia, ainda que obrigada, muito maior no refugio, o que foi legal por que os refugeiros eram muito mais gente fina que os de antes. noites de vinho e xadrez. o sol chegava e os israelenses brotavam, e nós partíamos para as agulhas. o primeiro cume da cata, no abuelo, foi numa nevasca fudida e a fenda tinha uma aguinha fria escorrendo bem aonde voce tinha que entalar. uma delicia!
natal nevando! isso para um carioca é incompreensível. porre no ano novo! e as escaladas intercalando a social... fizemos cume da principal pela normal. que alucinante a linha, da decada de 40! os caras eram escaladores do caralho. para chegar na base tinha que fazer uma rampa, toco pra cima, que ja tinha os degraus, mas foi a neve mais em pé que a gente pegou, vimos uns americanos que se encordaram antes da rampa e fincavam os bastões, eu fui de luvas e solo, mas quando cheguei a rocha dominei um bloco e joguei uma ponta de corda pro ale. eu enchi o saco dele para agilizar a caminhada e a escalada por que eu queria evitar o trafego. tinha mais umas cinco cordadas subindo o vale e eu queria o cume so pra mim. la só tem um relevo e meu plano era pegar a galera ja na nossa descida. foi o que rolou, teve uma cordada de tres que so voltou para casa de madrugada.
lemos numa revista a historia do refugio, as ascenções famosas, as robadas e sobre os personagens que marcaram epoca por la. fonrouge, weber, de la cruz, rolo garibotti, jim donini, os irmãos fiorenza e muito outros estavam la. robertinha era uma grande entusiasta e teve sua energia lembrada na materia tambem.
o campagnile eu fiz com o meu novo grande amigo o bachi. foi foda. o vento não deixava a gente se escutar, minha calça fazia um zunido que não me deixava ME escutar. saimos da linha da via que queriamos escalar, perdidos por uma enfiada e meia, e quando voltamos para a linha da imaginate, o bachi toma um voo de uns dez metros! um susto do caralho! depois vimos, tinhamos escalado duas enfiadas de uma via chamada excuseme señora, eu na parada parado a um tempão congelando e sendo literalmente sacudido pelo vento, a massaroca ja podia ser vista se aproximando, ainda que bem longe... so chegou mesmo no dia seguinte. 12:00 cume (acordamos 6:30, comemos e partimos. adoro parceiros que acordam cedo. fizemos a caminhada toda, ate a base da via em uma hora e meia.) e o rapel, ah o rapel foi doideira tambem: tenho que treinar essa coisa de rapelar com as cordas arrumadas, uma de cada lado. não dá para simplesmente jogar para baixo, o risco de prender é muito grande. de volta ao chão 13:30. rapelavamos em 4 por que os irmão de floripa, pedro e joão, escalavam com uma corda single e ia ficar foda pra eles descer so com 30 metros. foi bonito ver eles escalando com tanta intimidade, eles nem precisavam se falar, ja sabiam o que o outro fazia pelo jeitão da corda. isso facilitava muito as coisas para eles.
me fez pensar no bruno (cabeça) e o silvio (coisinha) que aquela altura ja deviam estar no chalten. intimidade facilita tudo na montanha, para tudo correr macio e para quando der uma merda buscar soluções parecidas. tomara que eles estejam se dando bem por la, ouvi noticias de uma janela boa no natal, mas ja no rio ouvi tambem que o tempo estava uma merda... chalten é assim. ano que vem quero estar forte e com a cabeça boa, não só para a escalada mas para as novidades que forem pintando, por que cada viagem é completamente diferente da outra. manter a disciplina isso deu para ver bem desta vez.
obrigado a todos que me ajudaram com dicas, como o alvarenga e com equipos como o martino, a nina o mingo, o andrew, o alexandre, o ricardo e a babi (novos amigos que fizemos, passando natal e tormentas juntos).
valeu!
ducha

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