editais de arte: grana publica. texto em processo

como o próprio nome do post ja diz, eu vou escrever esse texto bem aos poucos. Depois eu volto e mexo. E depois mexo mais.

(hoje é dia 25 de janeiro e estou fazendo a terceira atualização no texto, motivado principalmente por criticas e sugestões de leitores amigos.)


o assunto é bem delicado: a utilização de dinheiro publico para subvenção artistica no brasil. ja vinha pensando em escrever sobre isso, mas a materia do globo sobre bilheteria dos filmes brasileiros e o risco de investir grana em produções serviu de estimulo. não da mais para esperar. o tratamento dado aos audio visuais me serve de exemplo comparativo para poder falar um pouco de como as coisas estão em relação as artes visuais.

é fato que nós artistas necessitamos muitas vezes de apoio, seja publico ou privado para realizarmos alguns de nossos projetos. no caso das artes plasticas existem trabalhos que podem ser realizados com nossos proprios recursos, ja que desde o periodo pós-moderno, surgiram novas maneiras de materializar ideias sem, necessariamente, escalas gigantescas ou alto custo . eu mesmo sou um artista que tenho uma produção muito ligada a materialidades peso leve e algumas vezes efemeras, volateis. o caso é que não é sempre possivel trabalhar com essa logica desmaterializada e existem varios tipos de trabalhos, alem de distintas linhas de atuação. 

o oposto tambem ocorre: existem linguagens, como teatro, dança e cinema, onde na minha visão, muita grana é torrada sem necessidade. alguns dos melhores filmes brasileiros da historia foram feitos com orçamentos bem baixos e muita merda inexpressiva é feita com equipes enormes, logisticas faraônicas para, no final, resultar em filmes com cara de publicidade de quinta, ou novela da globo, e nenhuma importancia estetica real.

essas produções brasileiras tem a pretensão de ter cara de realizações feitas em países onde existe industria cinematografica, mas não conseguem ser auto-sustentaveis economicamente. minha humilde opinião é que seguimos com um complexo de inferioridade sendo que, justamente o diferencial que nossos filmes podeiram ter, em relação a esses outros paises onde filme da lucro (seja com bilheteria ou com merchand), podeira ser o conteudo e a profundidade (coisa que não nos faltava nos 60).

no caso das artes visuais (para sair um pouco do cinema e voltar para a area que venho me dedicando nos ultimos dez anos), o que eu vejo é uma quantidade cada vez maior de editais publicos ou semi publicos (estou chamando semi publicos os editais de empresas não estatais mas que deduzem grana que seria paga em impostos, ou seja: grana publica) mas que não destinam seus recursos diretamente a realizaçlão de projetos de artista.

arte e patrimonio, arte e mediações, arte pensamento, arte e intermeios, arte politica... e muitos mais. o que acaba acontecendo na pratica é que os artistas acabam inventando pretextos vazios, "manobras", projetos sem alma e sem corpo para a utilização de recursos, que ao meu ver, estão sendo MUITO mal empregados. parece que as empresas privadas, a FUNARTE, o IPHAN, o MINC, e as secretarias de cultura municipais e estaduas QUEREM ser enganadas, pedem até. e muito mal enganadas...

por que não abrir editais para realização de projetos artisticos? Bolsas para artistas, fomento para realização de projetos de artista, livros de artista... por que não? digo, propostas diretamente artisticas, não projetinhos pseudo-sociais ou residencias de artistas que não passam de maneiras para que gente de produção pouco expressiva inflem seus egos assinando tais projetos que torram grana que podeira certamente ser melhor empregada, no caso de uma seleção feita por gente capaz e sem previlegios a amigos ou panelinhas. talvez seja justamente esse o motivo para tais editais não destinarem grana diretamente pro artista realizar seu trabalho: medo que a grana va parar na mão do amigo ou parente da pessoa que faz a seleção. mas será que isso não continua a acontecer?

eu acompanhei o jarbas lopes com seu projeto do troca-troca de baixo do braço, com a ideia de trocar as partes dos fuscas de cores diferentes, tentando realizar por anos (14 anos, se não me engano). até que, finalmente, o trabalho foi adquirido por uma coleção famosa e mesmo antes de existir, o artista teve recursos para montar a obra. Quanta luta... e quantos não tem a mesma oportunidade... parece que o proprio jarbas vai ter uma grana, agora, para fazer um trabalho para o acervo do MAM. que ótimo. premio marcantonio vilaça, pelo menos um existe! mas cá entre nós, mesmo assim muito restritivo.

porra, será que eu to tendo um surto ou tem mais gente que tambem acha um absurdo aplicar tão mal o dinheiro publico? Sera que um cara como o jarbas não poderia ter tido apoio para realizar seu troca troca antes? só para deixar bem claro: eu acho que é melhor ter esses editais, esses mesmos que eu estou criticando, do que não ter nenhum. meu objetivo não seria o de acabar com editais como os que já existem, o que proponho é uma reformulação, uma nova abordagem para o fomento. uma abordagem mais direta, não um abandono.

para fazer uma exposição dentro da galeria ou museu tem que ter, antes de tudo, o trabalho do(a) artista. não adianta dar grana para montar exposição, se o artista não tem como realizar seus projetos de maior complexidade ou de produçao mais cara. Na melhor das hipoteses a galeria subvenciona os trabalhos, não é mais do sua obrigação. mas nem sempre isso é possivel.

Agora, grana para exposições blockbuster, para catalogos multi coloridos e cocktails luxuosos, isso, não falta.

eu tenho a impressão que para a cultura brasileira, a medio e longo prazo, valeria mais a pena apostar em apoiar cinco, oito projetos de artistas que estão se estabelecendo do que fazer uma GRANDE retrospectiva de um artista que ja é figurão aqui e fora do país. assim como valeria mais a pena apoiar dez pequenos grupos de dança, do que a petrobras (por exemplo) apoiar uma ou duas companhias que ja estão aí a decadas, e que acabam tendo como buscar super recursos de fundações no exterior. eu acho um absurdo gastar tanta grana em filmegens megalomaniacas, produções caras que poderiam ser feitas com equipes bem menores e ate com mais criatividade por gente menos experiente e que não são, ainda por cima, filhos de banqueiro. o cinema brasileiro ja foi, repito, bem melhor do que é hoje, mesmo com o som direto super improvisado e sem cameras panavision alugadas a preços exorbitantes, pelo simples fato que as motivações eram artísticas e não do ego de diretores impotentes. impotentes tambem esses artistas que inventam projetos em zonas marginalizadas como puro pretexto para captar dinheiro. e o resultado: invariavelmente projetos sem alma, improvisados no pior sentido que essa palavra pode ter, sem a criatividade e as soluções maravilhosas que esse mesmos moradores desses bolsões de pobreza tão comumente acabam dando à função mais artística de todas: a sobrevivencia. não a mais um favela movie! não a mais uma ONG ladra que vive de dinheiro governamental, essa porra é NÃO GOVERNAMENTAL, ou não? só no brasil mesmo...

essa gente que acha que faz arte deveria ser mais humilde e aprender com quem sabe o que faz. com os favelados, meninos de rua, prostitutas, trabalhadores rurais, habitantes de comunnidades, estivadores e até traficantes de drogas que são gente muito mais acostumada (ou obrigada) a ser criativa, do que quem foi criado a leite com pêra.

fazer alongamento na Praça Paris pode ser muito mais benefico para a proprio debora colker do que para os moradores da gloria. parece ser uma quastão de visibilidade, por isso que as coisas são do jeito que são, os catalogos tão cheios de cores e tão vazios de inteligencia. eu so gostaria que a cultura fosse levada mais a serio, pelos governos, mas tambem por nós artistas.

 ducha

Nenhum comentário:

Postar um comentário